Prezado leitor do blog,
Neste post, temos a participação do Professor João Henrique de Almeida. João é uma daquelas pessoas impressionantemente perspicazes e criativas tanto experimentalmente quanto conceitualmente, tanto em Teoria das Molduras Relacionais (RFT) quanto em Análise do Comportamento (AC) de forma mais geral. Além disso, ele é incrivelmente gentil, pessoalmente, sempre disposto para ajudar os outros. Dermot entrou em contato com João pela primeira vez em 2011, quando ele veio visitar o seu laboratório na Irlanda como parte de estágio em pesquisa durante seu doutorado. Foi por volta de 2017 que eu conheci o João, nos encontramos pela primeira vez, quando ele veio visitar Dermot novamente como pós-doutorando, desta vez na Universidade de Ghent, na Bélgica, onde eu estava fazendo meu doutorado. Durante esse tempo em Ghent, ele e Carol Coury Silveira trabalharam intensamente com Dermot e Yvonne (Barnes-Holmes) para aplicar atualizações em RFT que estavam sendo desenvolvidas no laboratório na época, no desenvolvimento de habilidades de tomada de perspectiva. Muito desse trabalho emocionante ainda está em andamento e em preparação, então fique ligado (informações sobre parte desse trabalho apresentado na reunião da ABAI no ano passado em Boston podem ser encontradas aqui, enquanto muitas outras contribuições excelentes para a literatura de João podem ser conferidas aqui). De fato, sem João, posso dizer com segurança que certamente não estaria na minha atual posição no Brasil, trabalhando sob a supervisão do mentor de doutorado de João, o incrível Professor Júlio de Rose (que deve escrever um post para nós daqui a algumas semanas – fique ligado!).
Enfim, voltando ao assunto em questão: no post a seguir, João nos conta um pouco sobre sua visão do papel do cientista do comportamento e o estado atual da Análise do Comportamento no Brasil, tudo isso serve para ambientar o motivo pelo qual ele e dois amigos decidiram compilar dois volumes editados com o objetivo de apresentar a estudantes interessados temas importantes no campo, através de narrativas acessíveis de experimentos clássicos de AC. Para isso, João e seus coeditores convidaram muitos analistas do comportamento renomados do Brasil e do exterior para falarem sobre um tópico importante no campo (por exemplo, controle de estímulos, história comportamental) por meio da análise crítica de um experimento relacionado a esse tópico (por exemplo, Weiner, 1964; você pode encontrar a lista completa aqui). Se você fala português (ou está tentando aprender como eu), e ainda não leu esses livros, eu recomendo fortemente dar uma olhada (ambos estão disponíveis gratuitamente através dos links fornecidos ao final desta postagem do blog). E se você não fala português, não se preocupe – há alguns capítulos escritos em inglês em cada volume que certamente valem a pena conferir; um escrito por Kennon Lattal, um por Hiroto Okouchi e outro por Michael Perone e Forest Toegel, nenhum dos quais precisa de apresentações. De qualquer forma, recomendo fortemente que você reserve alguns minutos para ler esta interessante postagem do blog, que possui várias implicações instigantes para a disseminação de nossa ciência no Brasil e no exterior. Fique atento também ao trabalho futuro de João – você não se arrependerá!
Sobre o autor:
João H. de Almeida é professor assistente no Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Ele possui doutorado em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos, mestrado em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina e formação em Psicologia pela Universidade Federal de São João del Rei. Em duas ocasiões diferentes, ele trabalhou como pesquisador visitante na Universidade Nacional da Irlanda – Maynooth e na Universidade de Ghent, ambas sob a supervisão de Dermot Barnes-Holmes. Ele é ex-presidente da ACBS (Associação Brasileira de Ciência Comportamental) e terapeuta treinado em Terapia Comportamental Baseada em Processos (PBBT). Além disso, ele é membro da Behavior Analysis of Language and Cognition – International (BALC-I), do Laboratório de Análise do Comportamento e Neurociência (LACEN) e do Laboratório de Aprendizagem, Desenvolvimento e Saúde (LADS). João possui mais de 50 artigos revisados por pares, capítulos de livros e livros organizados publicados. Seu principal interesse de pesquisa é a Teoria das Molduras Relacionais, trabalhando em uma ampla gama de aplicações dessa abordagem, desde pesquisas básicas com transformação de funções e flexibilidade relacional até pesquisas aplicadas que investigam viés social e desenvolvimento de repertórios relacionais derivados.
Divulgando a Análise do Comportamento com Experimentos Clássicos
Ser cientista não pode ser uma empreitada focada apenas no presente. Mesmo quando as contribuições de um cientista específico são notáveis em seu tempo, a ciência é sempre direcionada para o futuro, permitindo que a tecnologia melhore a experiência de vida humana. Além disso, ser cientista não é um esforço individual focado apenas na carreira de alguém. Em vez disso, a ciência é uma empreitada colaborativa, não apenas no desenvolvimento de pesquisas, compartilhamento de conhecimento, coleta de dados e relato de resultados, mas também na formação de cientistas que dedicarão suas vidas às mesmas atividades, mantendo vivas as áreas científicas no futuro.
Esta postagem relatará sobre a organização de um livro, mas de uma maneira mais ampla, também fala sobre a disseminação da análise do comportamento no Brasil. A comunidade brasileira de análise do comportamento é a segunda maior, atrás apenas dos Estados Unidos, considerando o número de membros (Todorov & Hanna, 2010). A comunidade brasileira de Análise do Comportamento também é composta por muitos pesquisadores que contribuem para importantes periódicos nacionais e internacionais como autores e trabalhos editoriais. Além dessas conquistas alcançadas pela comunidade brasileira de Análise do Comportamento, a educação nesse assunto é insuficiente e há uma demanda aparente por profissionais qualificados. Imagine que o Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes, com cerca de 450 mil psicólogos, mas possui apenas 21 programas de pós-graduação em Análise do Comportamento, muitos deles criados nos últimos 15 anos (Lista fornecida pelo ACeará Cast). Levando em consideração dados recentes do BACB, o Brasil possui apenas 46 analistas do comportamento certificados e apenas 10 BCBA-D. Considerando isso, no contexto aplicado, a demanda profissional é limitada; podemos imaginar que os recursos em português voltados para a pesquisa experimental também são escassos.
Preocupados com a formação de pesquisadores brasileiros em Análise do Comportamento, nós (Paulo, João e Carlos) idealizamos o livro “Experimentos Clássicos em Análise do Comportamento”. Este livro foi concebido a partir de nossa paixão compartilhada pela Análise Experimental do Comportamento. O livro tem como objetivo introduzir estudantes universitários a tópicos de pesquisa em Análise do Comportamento por meio de experimentos clássicos. Infelizmente, a Análise Experimental do Comportamento é frequentemente considerada desafiadora, com descrições metodológicas complexas e certa distância das questões cotidianas. Essas características frequentemente fazem com que os aprendizes iniciantes considerem a Análise Experimental do Comportamento um assunto intimidador e assustador.
Inspirados por livros de divulgação científica, especialmente “Forty studies that changed Psychology” de Roger Hock, formatamos a ideia inicial do livro. Em cada capítulo, os autores discutem um tópico relevante em Análise do Comportamento com base na descrição de um experimento “clássico”. Clássico não necessariamente significa o estudo mais antigo, mas sim aquele reconhecido como influente em uma área específica de pesquisa, servindo como contexto para a produção de mais conhecimento científico. Assim, em cada capítulo, o experimento ou experimentos servem como pano de fundo para a apresentação do tópico. Uma vez que o foco era estudantes iniciantes em Análise do Comportamento, todos os capítulos foram escritos em linguagem didática e acessível, tentando também criar relações entre os procedimentos e resultados da pesquisa e os contextos do dia a dia ou aplicados. Cada capítulo fornece um relato detalhado de um experimento clássico específico e seu impacto no campo. Os capítulos foram escritos por pesquisadores especialistas em cada um dos temas explorados. Os autores também sugeriram materiais adicionais para os leitores começarem a desenvolver uma perspectiva mais profunda sobre cada tópico.
“Experimentos Clássicos em Análise do Comportamento” foi possível graças à colaboração e generosidade de vários pesquisadores do Brasil e do exterior. O livro é composto por dois volumes, e o trabalho coletivo realizado pode ser observado literalmente na capa de cada um. Ambos os volumes são distribuídos gratuitamente nos links referenciados abaixo. A capa do primeiro volume é uma imagem de “Osteografia” criada por William Cheselden e inclui um comentário do professor Alexandre Dittrich (UFPR) e o segundo, gentilmente cedido por Deborah Skinner, filha de B. F. Skinner, mostrando dois cavalos pulando, com um comentário da professora Yara Nico. A professora Deisy de Souza (UFSCar), recentemente premiada pela Society for the Advancement of Behavior Analysis pelo Serviço Distinto à Análise do Comportamento, escreveu o Prefácio. Além disso, destacados analistas do comportamento contribuíram como autores do livro, como Kennon Lattal (West Virginia University), João Cláudio Todorov (UNB), Armando Machado (Universidade do Minho), Júlio César de Rose (UFSCar), Lincoln Gimenez (UNB) e Michael Perone (West Virginia University), juntamente com muitos outros pesquisadores. Não podemos agradecer o suficiente a todos os autores por sua colaboração e cooperação. Alguns dos experimentos clássicos selecionados foram Reynolds (1961), Weiner (1964), Skinner (1948), Galizio (1979), Lubinski e Thompson (1987), Sidman e Tailby (1982), Seligman (1967), Nevin (1974) e Sidman (1953), por exemplo. Esses são alguns dos tópicos dos 34 capítulos originais e três traduções dos capítulos em inglês.
Por fim, no momento da redação deste post, ambos os volumes têm 22.560 downloads no Researchgate e provavelmente um número equivalente no site Walden4, que publicou o livro. Falando sobre a organização de um livro realizado por três amigos, o longo processo de lançamento dos dois volumes gratuitamente contou não apenas com demandas e tarefas infinitas, mas também com muitas reuniões divertidas. Esperamos que esses volumes inspirem futuros pesquisadores a seguir o caminho da pesquisa experimental em Análise do Comportamento, que consistentemente tem se mostrado recompensador e gratificante.
Um link para a tabela de conteúdos na versão em inglês pode ser encontrado aqui:
Recursos adicionais:
Volume 2 disponível em: https://www.researchgate.net/publication/339054077_Experimentos_Classicos_em_Analise_do_Comportamento_volume_2
Volume 1 disponível em: https://www.researchgate.net/publication/311595175_Experimentos_Classicos_em_Analise_do_Comportamento
A lista de programas de pós-graduação no Brasil, criada por ACeará Cast, está disponível online em https://drive.google.com/file/d/1-G816ZvVHFRvpRd7fqjwI-LUL423SeXo/view
Referências:
Hock, R. R. (2013). Forty studies that changed psychology: explorations into the history of psychological research. 7ª ed. Upper Saddle River, N.J.; Londres, Pearson.
Soares, P. G., de Almeida, J.H., Cançado, C. R. X. (2019). Experimentos Clássicos em Análise do Comportamento*, Vol. 2. Brasília: Instituto Walden4.
Soares, P. G., de Almeida, J.H., Cançado, C. R. X. (2016). Experimentos Clássicos em Análise do Comportamento*, Vol. 1. Brasília: Instituto Walden4.
Todorov J.C., Hanna E. S. (2010) Análise do comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2010;26(spe):143–153.